Estudo de caso voltado a uma banda musical fictícia de Curitiba com o objetivo de mostrar documentos contábeis, lançamentos em partidas dobradas e outros.
Fase 1 – O Começo: Um Único Músico com Sonhos Grandes
O Início da Jornada
João Silva era um jovem músico apaixonado por guitarra e por letras que tocavam fundo na alma. Com pouco mais de 25 anos, começou a tocar em bares pequenos de Curitiba, sempre com o mesmo objetivo: ser ouvido. Apesar do talento e dedicação, seus vídeos no YouTube e suas músicas no Spotify não traziam retorno financeiro significativo.
A Necessidade de Profissionalizar
Percebendo as limitações de atuar na informalidade, João decidiu dar um passo importante: formalizar seu trabalho como Microempreendedor Individual (MEI). Isso permitiu a ele emitir notas fiscais, ser contratado por empresas e eventos maiores, e obter acesso a ferramentas bancárias voltadas a negócios.
Escolha do CNAE e Atividade Principal
João registrou-se como MEI utilizando o CNAE 90.01-9/02 – Produção Musical, que está dentro das ocupações permitidas pelo regime. A escolha foi estratégica, pois sua atividade principal envolvia criação, gravação e execução de obras musicais, especialmente autorais.
Como Era a Rotina de Trabalho
Mesmo com estrutura limitada, João levava sua atividade com seriedade. Sua rotina incluía:
- Apresentações em bares e eventos locais
- Gravações caseiras com equipamentos básicos
- Divulgação de seu trabalho nas redes sociais e plataformas de streaming
- Venda direta de camisetas, adesivos e outros produtos personalizados
Fontes de Receita na Fase Inicial
As fontes de receita de João vinham de diferentes frentes, ainda que modestas:
- Cachês por apresentações em bares e eventos particulares
- Venda de produtos físicos (camisetas, adesivos)
- Repasse de royalties de plataformas como Spotify e YouTube
- Pequenas comissões em parcerias com marcas locais
A principal renda vinha das apresentações ao vivo, uma vez que os pagamentos por streaming exigiam volumes altos de visualizações e execuções para gerar valores relevantes.
Custos e Obrigações como MEI
Com a formalização como MEI, João passou a ter algumas obrigações mensais e anuais. Em 2025, os custos fixos do MEI com atividade de produção musical são:
- INSS: R\$ 75,90 (5% do salário mínimo de R\$ 1.518,00)
- ISS: R$ 5,00 (imposto municipal para prestadores de serviço)
- Total mensal do DAS: R$ 80,90
Além disso, João passou a ter a obrigação de entregar a Declaração Anual do Simples Nacional – DASN-SIMEI, informando o total do faturamento bruto do ano anterior (limite anual de R$ 81.000,00 para MEI).
Benefícios Garantidos pelo MEI
Ao pagar regularmente o DAS, João passou a ter direito a uma série de benefícios da Previdência Social:
- Aposentadoria por idade ou invalidez
- Auxílio-doença
- Salário-maternidade
- Pensão por morte e auxílio-reclusão para dependentes
- Direito de contratar 1 funcionário com encargos reduzidos
Organização Financeira e Controle
João também iniciou um processo de maior controle financeiro e gestão:
- Criou uma conta bancária separada para movimentações da empresa
- Montou uma planilha simples de receitas e despesas
- Começou a pensar em seu trabalho como uma atividade econômica estruturada, não apenas como expressão artística
O Primeiro Passo como Empreendedor Musical
Mais do que um simples registro de CNPJ, tornar-se MEI foi um marco simbólico e prático para João. Ele começava a trilhar um caminho que unia arte e empreendedorismo, com seriedade, visão de longo prazo e planejamento.
A profissionalização permitiu que ele se apresentasse de forma mais sólida para parceiros, contratantes e até mesmo fãs. Foi o primeiro passo concreto na transformação do músico solo em uma futura empresa musical.
Fase 2 – Os Investidores Aparecem
O Reconhecimento Após o Palco
O talento de João Silva começava a ecoar além dos pequenos palcos. Certa noite, após uma apresentação animada em um bar conhecido da cidade, ele conheceu duas pessoas que mudariam o rumo do seu projeto musical: Pedro, empresário do ramo de eventos, e Ana, publicitária especializada em marketing digital.
Ambos ficaram impressionados com o carisma, a performance e o potencial comercial do trabalho de João. Mais do que fãs, enxergaram ali uma oportunidade de investimento estratégico.
A Proposta de Investimento
Após algumas conversas e reuniões informais, Pedro e Ana fizeram uma proposta clara:
- Pedro investiria R$ 30.000, com foco na infraestrutura de eventos, logística de equipamentos e ampliação da agenda de shows.
- Ana investiria R$ 20.000, com foco em identidade visual, redes sociais, tráfego pago, campanhas digitais e presença online.
O total injetado no negócio foi de R$ 50.000, valor suficiente para dar um salto na estrutura e alcance da carreira de João.
Transformação da Estrutura Jurídica: De MEI para LTDA
Com a entrada de sócios, o formato MEI se tornou inviável, uma vez que o Microempreendedor Individual não permite a entrada de outros sócios.
Dessa forma, a empresa foi transformada em uma Sociedade Empresária Limitada, registrada sob o nome “Som Alto Produções Musicais Ltda.”. A natureza jurídica agora permitia:
- Ter mais de um sócio
- Investimentos formais com contratos
- Distribuição de cotas e lucros
- Crescimento estruturado com divisão de funções
Participação Societária Definida em Contrato
A divisão das cotas foi feita com base no valor investido e no papel desempenhado por cada um dos sócios:
- João Silva – 50% das cotas
Responsável pela parte artística e pela criação musical. Era o “produto principal” e mantinha o controle simbólico e técnico do projeto. - Pedro – 30% das cotas
Investidor e responsável por logística, produção de eventos, negociação com casas de shows, equipamentos e contratos operacionais. - Ana – 20% das cotas
Responsável pelo marketing digital, branding, identidade visual, estratégias em redes sociais, assessoria de imprensa e canais de distribuição digital.
Essa distribuição foi formalizada em Contrato Social, com cláusulas sobre responsabilidades, retirada de lucros, reinvestimentos e decisões estratégicas.
Lançamento contábeis para o inicio da empresa.
Principais Ações com o Capital Inicial
Com os R$ 50.000 investidos, o trio traçou um plano claro de curto e médio prazo. Entre as ações executadas estavam:
- Compra de equipamentos profissionais de som e gravação
- Reformulação completa da identidade visual da marca e das redes sociais
- Criação de um site profissional com agenda, blog, loja e streaming embutido
- Produção de videoclipes e sessões de fotos de alta qualidade
- Investimento em tráfego pago para promover clipes e produtos
- Contratação de serviços contábeis especializados para a nova estrutura da empresa
Aspectos Tributários e Contábeis da Nova Empresa
Com a mudança para Sociedade Limitada, o regime tributário também passou por reavaliação. Como faturamento ainda era relativamente baixo, optou-se inicialmente pelo Simples Nacional, respeitando as seguintes condições:
- CNAE principal mantido como 90.01-9/02 – Produção Musical
- Possibilidade de continuar emitindo notas fiscais para eventos, shows e licenciamento de músicas
- Alíquotas progressivas conforme o Anexo III ou Anexo V do Simples, dependendo da folha de pagamento
Importante: a empresa não poderia mais se beneficiar da carga tributária reduzida do MEI. Agora, haveria:
- Pagamento de impostos (IRPJ, CSLL, PIS, COFINS, INSS patronal, ISS ou ICMS, conforme a atividade e localidade) dentro do DAS do Simples Nacional
- Necessidade de escrituração contábil formal, com balanço patrimonial, DRE e controle de distribuição de lucros
- Obrigatoriedade de contador registrado para emissão do Livro Caixa, balanços e guias fiscais
A Nova Estrutura de Trabalho
Com os papéis bem definidos, o dia a dia da empresa se profissionalizou. A rotina passou a envolver:
- João: gravações em estúdio, composição, produção musical e ensaios
- Pedro: fechamento de contratos com casas de shows e festivais, locação de equipamentos, negociação com fornecedores
- Ana: planejamento de postagens, anúncios pagos, interação com fãs, assessoria de imprensa, relatórios de engajamento
Foi criado também um fluxo de caixa gerencial, com o controle de:
- Despesas fixas e variáveis
- Previsão de receitas por evento, royalties e vendas
- Reserva de capital para reinvestimento e expansão
O Nascimento de uma Empresa Musical de Verdade
Essa fase marcou o ponto de virada: de um músico independente para uma empresa musical estruturada com visão de crescimento.
João não estava mais sozinho. Agora contava com sócios estratégicos que traziam capital, conhecimento técnico e visão empresarial. A transformação de MEI para Ltda. foi mais do que uma exigência legal – foi uma evolução natural do negócio.
Com esse novo cenário, a “Som Alto Produções Musicais Ltda.” deixou de ser apenas um projeto artístico e se tornou uma empresa em expansão, pronta para disputar espaço no cenário musical nacional.
No final do investimentos chegamos aos lançamentos contábeis conforme o arquivo e os livros e demonstrativos.
Fase 3 – Crescimento e Profissionalização
Caixa Zerado e Necessidade de Empréstimo
Ao encerrar a Fase 2, a Som Alto Produções Musicais Ltda. havia consumido integralmente todos os recursos em caixa oriundos dos aportes dos sócios Pedro e Ana. Embora ainda existisse o ativo intangível “Marca e Carteira de Contratos” correspondente à contribuição de João, não havia liquidez disponível para financiar as etapas seguintes de expansão. Sem saldo em caixa, tornou-se inviável contratar equipe técnica, alugar estúdio profissional, produzir um EP e ampliar a atuação para outras regiões.
Diante desse cenário, a decisão natural foi recorrer a um empréstimo de longo prazo para restabelecer a liquidez necessária. Assim, em vez de depender apenas de novos aportes societários — que implicariam renegociação de cotas e possível diluição de participação — a Som Alto optou por captar recursos externos.
Escolha do Sistema de Amortização e Contratação do Empréstimo
Para determinar as condições de pagamento, escolheu-se um regime de amortização que oferecesse previsibilidade de despesas mensais sem onerar demais o caixa nos primeiros meses. O Sistema de Amortização Constante (SAC) foi aplicado, pois esse método mantém a parcela fixa de amortização do principal, enquanto o componente de juros decresce ao longo do tempo. Dessa forma, nos primeiros meses, quando a empresa ainda estaria em fase de investimentos pesados, o valor total da parcela — embora mais alto no início — permitia planejar a redução gradual do saldo devedor.
No contrato de empréstimo, acordou-se prazo adequado para quitação em 24 meses, com taxa de juros mensal competitiva. A data de contratação foi ajustada logo após o fechamento da Fase 2, garantindo que, já no primeiro mês, houvesse recursos disponíveis para a execução dos novos projetos.
Expansão da Estrutura Operacional
Com o empréstimo em caixa, a Som Alto pôde avançar para uma fase mais madura de organização:
- Contratação da Equipe Técnica
- Engenheiro de Som (PJ): responsável pela mixagem, masterização e supervisão técnica das gravações.
- Técnicos de Palco e Roadies (CLT): equipe fixa para montagem de equipamentos, testagem de som e suporte logístico em shows.
- Assistente Administrativo (CLT): encarregado de emitir notas fiscais, controlar agendamentos, negociar faturamentos e acompanhar prazos de pagamento.
- Aluguel de Estúdio Profissional
Escolheu-se um estúdio com infraestrutura completa — isolamentos acústicos, sala de controle e cabines de gravação separadas para voz e instrumentos. O contrato de locação foi firmado por ao menos 12 meses, com possibilidade de renovação, garantindo estabilidade para agendamentos de sessões de gravação e mixagem. - Produção de EP e Videoclipes
- Gravação e Mixagem de Cinco Faixas: planejada de forma sequencial, priorizando os singles que serviriam de chamariz para o público-alvo.
- Diretoria Artística de Videoclipes: elaboração de roteiro, contratações de equipe de filmagem e locações que valorizassem a identidade visual da banda.
- Sessões de Fotos Profissionais: para capas de EP, posts em redes sociais e material de divulgação em press kits.
- Parcerias de Marketing e Influenciadores
Com orçamento reservado para tráfego pago e parcerias estratégicas, foram fechados acordos com influenciadores do nicho musical, marcas de instrumentos e plataformas de streaming independentes. A ideia foi criar campanhas que gerassem engajamento orgânico e tráfego qualificado, atraindo novos ouvintes e potenciais contratantes de shows.
Registro de Direitos Autorais e Expansão de Mercado
Com as novas faixas gravadas e as estratégias de marketing em andamento, houve a preocupação de registrar cada composição junto ao SBI (Sistema de Bibliotecas de Obras Intelectuais) e credenciar a Som Alto no ECAD. Isso garantiu proteção jurídica sobre as obras e possibilitou a arrecadação regular de direitos autorais a cada execução em rádios e serviços de streaming.
Paralelamente, a banda começou a negociar apresentações em capitais do Sul e Sudeste, contando com um plano logístico robusto que considerava deslocamento, hospedagem e montagem de palco. O suporte financeiro do empréstimo assegurou também a compra antecipada de passagens, reserva de adiantamento em hotéis e garantia de cachês.
Perspectivas Futuras
Com todos os processos de profissionalização em prática — equipe consolidada, estúdio contratado e EP lançado — a Som Alto Produções Musicais Ltda. se encontrava pronta para buscar contratos maiores em festivais regionais e, nos meses seguintes, planejar uma turnê pelo Sudeste. O pagamento das parcelas do empréstimo SAC seguia em dia, sem comprometer o caixa operacional, graças ao controle rígido de despesas e à ampliação das fontes de receita (mercadorias, direitos autorais e cachês de shows).
A partir desse estágio, a empresa passou a ser vista não apenas como um projeto artístico, mas como um negócio viável e em crescimento. A base financeira estável e a estrutura contábil organizada abriam caminho para futuras captações de investidores ou até mesmo para a negociação de novos contratos internacionais, consolidando a Som Alto como uma referência de profissionalismo no cenário musical nacional.
Essa foi a essência da Fase 3 — transformar o zero em caixa em alicerce sólido para uma operação musical de grande porte, equilibrando investimento em qualidade artística e rigor empresarial.
Veja com ficou o plano de contas e balanço patrimonial e os livros e demonstrativos.
Fase 4 – Contratos, Dinheiro e o Lançamento do EP
A Execução dos Contratos e a Primeira Grande Receita
Com a estrutura montada na fase anterior, chegou a hora de colher os frutos. Os contratos assinados para shows em festivais e casas noturnas começaram a ser cumpridos, e o dinheiro finalmente entrou no caixa da empresa.
- Agenda de Shows Lotada: A equipe de produção, agora completa, garantiu que todos os eventos fossem realizados sem problemas. Os cachês variaram entre R\$ 5.000 e R\$ 20.000 por apresentação, dependendo do tamanho do local e do público.
- Vendas de Produtos nos Shows: Camisetas, adesivos e cópias físicas do EP foram vendidas diretamente nos eventos, gerando uma receita extra de R\$ 2.000 a R\$ 5.000 por show.
- Parcerias com Marcas Locais: Bares e pequenas empresas patrocinaram alguns eventos em troca de exposição, ajudando a reduzir custos de produção.
O Lançamento do EP e a Estratégia de Divulgação
O EP, gravado no estúdio profissional alugado, foi finalmente lançado com uma campanha bem planejada:
- Plataformas de Streaming:
- Todas as faixas foram distribuídas digitalmente, começando a gerar royalties mensais.
- O single principal entrou em playlists curadas, aumentando o alcance.
- Videoclipe e Redes Sociais:
- Um clipe profissional foi lançado no YouTube, com direito a pré-estreia e interação ao vivo com os fãs.
- Campanhas pagas no Instagram e TikTok impulsionaram as visualizações.
- Rádio e Mídia:
- Algumas faixas foram enviadas para rádios universitárias e programas especializados, aumentando a visibilidade.
As Novas Fontes de Receita
Além dos shows e do EP, outras formas de ganhar dinheiro começaram a aparecer:
- Direitos Autorais: Com o registro no ECAD, cada execução em rádio ou streaming gerava repasses.
- Licenciamento para Publicidade: Uma agência de propaganda interessou-se em usar uma música do EP em um comercial regional.
- Cursos e Workshops: João passou a oferecer aulas online de violão e composição, criando mais uma renda recorrente.
O Controle Financeiro e os Próximos Passos
Com o dinheiro entrando, foi preciso organizar as finanças para garantir o crescimento sustentável:
- Pagamento do Empréstimo: As parcelas continuaram sendo quitadas em dia, com a previsão de quitar tudo antes do prazo.
- Reinvestimento no Negócio: Parte do lucro foi usada para melhorar equipamentos e financiar a gravação de um novo single.
- Preparação para uma Turnê Maior: Com os resultados positivos, começaram os planos para expandir os shows para outras regiões do país.
O Resultado: Um Negócio que Dá Certo
No final dessa fase, a Som Alto Produções Musicais Ltda. já não era mais um sonho distante. Virou uma empresa real, com contratos, receita constante e um nome reconhecido no circuito independente.
Agora, o desafio era maior: crescer ainda mais, sem perder a essência. A próxima fase traria novas oportunidades, mas também novos riscos. E eles estavam prontos.
Veja com ficou o plano de contas e balanço patrimonial e os livros e demonstrativos.